Despindo-se, através dos tempos, de
sua imponente pompa litúrgica, a Magia Negra conserva, por toda parte, a quase
totalidade de seu poder terrífico de outrora.
Como a Branca, que lhe é adversa, a
Magia Negra para consecução de seus objetivos, opera com as forças da natureza,
propriedades de
produtos da fauna e da flora do mar,
de corpos minerais, de vegetais de vísceras e órgãos animais, com elementos do
organismo humano, e com atributos ou meios só existentes nos planos
extraterrestres. A sua influência atinge as pessoas, os animais e as coisas.
As entidades espirituais que realizam
esses trabalhos possuem sinistra sabedoria, recursos verdadeiramente formidáveis,
e energia fluídica aterradora.
Um desses espíritos tem se prestado à
experiências, não só diante de
conhecedores do espiritismo, como
perante pessoas de brilho social no círculos da elegância. Assim, tomando o seu
aparelho, isto é, incorporando-se ao seu médium, faz triturar com os dentes,
sem ferir-se, cacos de vidro. Caminha, de pés descalços, sobre um esTendal de
fundos de garrafas quebradas, seno
que, por duas vezes, convidados,
levaram as garrafas e as quebraram,
aguçando lâminas pontudas para o passeio do médium.
Ele demonstrou de uma feita, a um
grupo de curiosos da alta sociedade, a importância de coisas aparentemente
insignificantes. Nos centros do espiritismo de linha, pede-se, durante as
sessões, que ninguém encruze as pernas e os braços. Parece uma exigência
ridícula, e não o é. Provou-o, o Exu.
Quando, incorporado, passeava descalço
sobre os cacos de vidro, para fazer compreender a transcendência daquela
recomendação, mandou que uma senhora trançasse a perna, e logo os pedaços de
vidro penetraram, ensanguentando-se, os pés que os pisavam.
Para comprovar a força dos pontos da
magia (desenhos emblemáticos, cabalísticos ou simbólicos), produziu uma
demonstração sensacional.
Escolheu sete pessoas, ordenou-lhes
que se concentrassem sem
quebra da corrente de pensamento,
riscou no chão um ponto e
decapitou um gato, cujo corpo mandou
retirar, deixando a cabeça junto ao ponto.
- Enquanto não se apagar esse ponto,
esse gato não morre e essa
cabeça não deixa de miar. Durante dezessete
minutos, a cabeça separado do corpo miava dolorosamente na sala, enquanto lá
fora, o corpo sem cabeça se debatia com vida. Os assistentes começavam a ficar
aterrados. Ele apagou o ponto, e cessaram o miado gemente da cabeça sem corpo e
a convulsões do corpo sem cabeça.
Tais entidades tem ufania de seu
poder; são com frequência, irritadiças e vingativas, mas, quando querem agradar
a um amigo da Terra, não medem esforços para satisfazê-lo. As suas lutas no
espaço, por questões da Terra, tem a grandeza terrível das batalhas e das tragédias.
Essa magia exerce diariamente a sua
influência perturbadora sobre a
existência, no Rio de Janeiro.
Centenas de pessoas de todas as
classes, pobres e ricos, grandes e
pequenos, por motivos de amor, por
motivos de ódio, por motivos de
interesse, recorrem aos seus sortilégios.
A política foi e continua a ser dos
seus melhores e mais assíduos
clientes.
Durante a revolução de São Paulo,
essas hordas do espaço travaram
pugnas furiosas, lançando-se umas contra
as outras. As que se
moveram pelos paulistas esbarraram com
as que foram postas em ação em favor da ditadura e esses choques invisíveis nos
planos que os nossos sentidos não devassam, certo ultrapassaram, em ímpeto, as
arremetidas do plano material. Sobre o
enraivecido desentendimento
das legiões ditas negras, pairavam as
falanges da Linha Branca de
Umbanda e os espíritos bons e
superiores de todos os núcleos de nosso ciclo, levantando muralhas fluídicas de
defesa para que os governantes de São Paulo e do Rio não fossem atingidos pela
perturbação, e na plenitude de suas faculdades, medindo a extensão da desgraça,
compreendessem a necessidade de negociar e concluir a paz.Nesses dias da guerra
civil, os terreiros da Linha Branca de Umbanda tinham um aspecto singular: -
estavam cheios de famílias aflitas, e quase desertos de protetores, pois as
falanges todas se achavam no campo das operações militares, esforçando-se para
atenuar a brutalidade da discórdia armada...
A atividade da Magia Negra tem três
modos de ser contrastadas: a
oposição de seus próprios elementos, a
defesa a que se obriga a Linha Branca de Umbanda e a atuação dos Guias
Superiores.
Creio que, perdendo a solene pompa do
cerimonial antigo, a magia
perdeu em eficiência, porque a
colaboração do elemento humano
pensante e sensível diminuiu. O homem
que aspira ao domínio da
magia necessita de aprofundar-se em
estudos muito sérios, sobretudo
os da ciência, para conhecer as
propriedades dos corpos, e suas
afinidades, e precisa, ainda,
desenvolver e governar, com intransigência de ferro, as faculdades da alma, as
forças físicas e as energias do instinto. Isso não é fácil, e o praticante da
magia, em nosso tempo, tem de subordinar-se, em absoluto, a vontade de um
espírito, que, em geral, só lhe permite um lucro mesquinho.
Nessas condições o individuo que se
poderia chamar o mago negro
cada dia se tornara mais raro,
desaparecendo, a pouco e pouco, o
contato da humanidade com essa ordem
de espíritos.
Nos centros dessa magia, conforme a
finalidade das reuniões, os
aparelhos humanos laboram vestidos,
desnudos da cinta para cima ou
totalmente despidos. Trabalha-se com
entusiasmo, até para o bem,
quando lhes encomendam.
(Trecho retirado do livro O Espiritismo, a magia e as 7 linhas de Umbanda cap XIV p.37 de Leal de Souza)
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